Hoje assisti mais um filme indiano e acabei tendo uns momentos saudosos em relação àquele lugar.
Sabe do que eu sinto mais falta na Índia? Das crianças!... dos seus olhares!
Aquela pureza que você vê nos olhos das crianças. Coisa difícil de ver aqui no Brasil.
Aqui as crianças aprendem as maldades da vida muito rápido. Vídeo-game, televisão, violência, cenas de sexo, má educação, má criação...
Aprendi muito com as crianças de lá. Em nenhum momento de minha viagem vi uma criança chorando por pirraça, uma mãe gritando com um filho ou batendo. o que vi durante todo o tempo que estive na India foi muito respeito de ambas as partes.
Lembro delas vindo correndo na nossa direção (passei por isso diversas vezes) e, rindo muito perguntavam: “What your name? kkkkkk”. Era linda essa cena! Provavelmente sabiam que nós éramos estrangeiras e, como estavam aprendendo inglês na escola, queriam se comunicar conosco. Aí eu respondia: “Elaine!” E elas soltavam gargalhadas e saíam correndo como se tivessem ganhado o dia com aquela resposta ou como se aquela informação trouxesse o mistério de um grande segredo.
Um episódio me marcou muito durante minha viagem:
Num dia, estávamos (eu e minhas amigas) observando a aula das meninas mais novas na casa de nossa professora de dança clássica indiana. Ficamos sentadinhas naquele quartinho calorento e cheirando a Índia, por alguns momentos esqueci o calor e o cheiro de suor de todas nós e pude observar uma cena que me ensinou profundamente.
Uma das alunas, uma menina belíssima, de olhos grandes e cabelo cortado na altura dos ombros, muito pequena e magrinha, estava na frente da classe, super concentrada na sua cansativa e “pesada” aula de dança.
Ao seu lado, sentada no chão e observando com carinho, estava sua mãe (muito comum às mães assistirem a aula bem ao lado das filhas). E a mãe observava sua pequena dançarina e a aluna se esforçava para cumprir as ordens da professora, sempre exigente.
O que me chamou a atenção foi a relação da menina com sua mãe naquele momento, o que, com certeza, é o tipo de relação que as mães têm com seus filhos na Índia.
O olhar da mãe para a pequena dançarina era limpo, puro, sem cobranças, sem promessas, sem ambições. Ela não estava preocupada no como as outras meninas estavam dançando, no nível que sua filha estava das outras alunas, se estava fazendo certo ou errado os passos, ela não se metia... ela estava apenas olhando sua pequena jóia em seu esforço de cumprir suas tarefas sem se importar de quem estivesse olhando, como eu, por exemplo.
Nem as broncas que a professora dava, fazia essa mulher piscar, ela não tirava os olhos da pequena e eu não tirava os olhos dela. E a aluna, não se importou em nenhum momento com o olhar de sua mãe.
O fato era inusitado para mim. Imaginei eu no lugar dessa menina. Se minha mãe assiste uma aula minha, eu ia ficar sem graça, ia tentar “me mostrar”, “fazer bonito”, me enrolaria toda, sei lá... E qualquer criança (acho eu, ou pelo menos aqui no Brasil) pensaria: “Hi! Lá vem minha mãe me olhando!...” ou: “Não posso errar, senão ela vai achar que não sou boa dançarina!” ou ainda: “Que saco! Ela não tem mais o que fazer, não?...”.
Bem, claro que não iria passar por isso de qualquer forma, porque não deixaria nunca minha mãe assistir uma aula minha! Óbvio!.... Não é óbvio isso?!...
O normal é agente querer mostrar o resultado “bonito”, sem falhas, sem expor nossas fraquezas e os “esporros” que tomamos.
E o que eu estava vendo era justamente o contrário do que considerava “normal” para essas ocasiões: Uma mãe acompanhando naturalmente a evolução e as broncas que sua filha levava na sua aula de dança e uma filha ao lado de sua mãe, sem vergonha de errar, sem pensar no que ela (a mãe iluminada) estaria pensando ao vê-la dançar.
Como não havia cobrança, não havia vergonha e assim, não havia medo.
Os corações estavam limpos: o da mãe, o da menina e o meu, pois pude entender a riqueza desse momento e gravar tudo isso no meu coração. Ela não fez nada demais, só dançou! Só se esforçou para fazer o seu passo mais correto e estava tão preocupada com isso que nem percebeu que eu estava vidrada nela e em sua mãe, e confesso: com algumas lágrimas descendo em meu rosto. E nem imagina que o seu rosto e o da sua simples mãe ficarão gravados na minha memória para sempre.
A cena foi simples: uma mãe vendo sua filha dançar, mas o aprendizado foi enorme: A cobrança afasta as pessoas, o orgulho destrói relações, a inveja separa corações e a confiança amarra destinos por uma vida inteira!
Obrigada grande mãe!
Obrigada pequena dançarina!
Obrigada pelo profundo ensinamento!
Estou tentando colocá-lo em prática na minha vida.
Elaine R.
Um comentário:
Puxa Filha, impressionante suas palavras, adoreiiiiiiiii, acho que logo logo deves de começar a escrever um livro, tens muito o que dizer para todos nós. É muito bom te ler, emocionante, como suas palavras dizem e nos faz sentir o que sentes.
Escreva mais, mais, quero continuar te lendo.
Como te amo, cada vez mais, sua dança, suas palavras, seus olhos, seu sorriso, seu jeitinho de menina sapeca, seu dengo, suas palavras, etc, etc, etc.
bjs
Papai
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